Hora de mudar
Passado o final de ano, as pessoas geralmente entram em clima de férias. As lojas e ruas dão sinais de um período especial de descanso. Pensa-se em serra, mar, sol, viagem, encontro com os amigos. E, aqueles que trabalham, pelo menos sentem um alívio em poder conversar nas cafeterias ou ir a um cinema sem pressa.
Mas existem os que não se sentem em paz para curtir as férias. Estão em conflito e as demandas externas ou internas os atormentam. Para eles também deve haver tempo. E quando o encontro parece difícil, podemos contar com uma possibilidade: a mediação.
Não é olhar o mundo com óculos cor-de-rosa, mas, sim, admitir que cada um de nós, em seu íntimo, deseja e precisa de paz. Portanto, embora a descrença de alguns poucos na possibilidade de reconstrução de elos e reatamento de diálogo, acreditar em uma forma de atendimento de conflito fora da proposta do processo é possível. Por isso, admitir a mediação e investir nessa proposta vale a pena.
Um fator importante a destacar é que a mediação tem como característica a voluntariedade. Por isso, quando as pessoas admitem a possibilidade da mediação, já deram um passo decisivo à composição. Nesse momento, elas passam a ser artífices, construtores da paz. Uma característica da mediação é que nela os participantes, mediador e mediandos, reconstroem as experiências a partir do existente, na perspectiva de novas tramas, na busca de um consenso.
Segundo Brian Muldoon, na mediação há atuação de terceira força, que reside na capacidade que tem uma pessoa externa para efetuar mudanças em um sistema estático e caótico. Acredita-se, pois, que dispor-se à mudança é decisivo para por ordem à turbulência que, muitas vezes, está exatamente em nós. Nesse sentido, a terceira força é capaz de mudar o rumo do conflito.
Na medida em que o processo de mediação restabelece um diálogo rompido ou o faz acontecer onde este nunca existiu, a mediação sempre oferece um ganho. Mesmo que o consenso não ocorra, é certo que houve uma aproximação e essa nunca se perde, passa a fazer parte de uma nova experiência de vida. Logo, não há de se falar em êxito ou não da mediação, mas apenas que o processo de mediação ocorreu.
Na mediação, diferentemente da conciliação, a preocupação precípua não é formular uma proposta de acordo, mas, sim, dar espaço para que os interessados percebam uns aos outros e identifiquem as possibilidades de consenso a partir de um novo olhar para o conflito. Por isso, se diz que o mediador não é uma mera presença passiva. Ele traz ação não violenta, procura dar espaço a novos sentidos e novas convivências fora do campo do embate, da lógica do perde-ganha. Entretanto, nada poderá ocorrer se não houver disposição para mudar, para aceitar uma ampliação de visão que não está mais voltada apenas ao eu, mas para o nós, que faz, necessariamente, admitir a presença do outro.
Estamos em tempo de férias, é preciso que tenhamos tempo para cada um de nós e tempo para os outros, tempo para o descanso físico e emocional. Nada melhor para esse descanso do que conviver em paz.
Por Genacéia da Silva Alberton, Desembargadora do TJRS. Publicado originalmente no Jornal O Sul, edição de 16.01.2012.
Fonte: Judiciário e sociedade
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