Dicas importantes
“Na primeira cena,
eles apresentam uma imagem maravilhosa do que seria um casamento
quase ideal.(…) No final da cena, ambos são vítimas de uma
pequena adversidade. (…) Surge uma pequena ferida superficial que
se fecha deixando cicatriz, mas por baixo da cicatriz existe
infecção.” (Ingmar Bergman)1.
Há alguns anos
estamos atuando junto às Promotorias de Justiça (Ministério
Público) das Varas de Família de Curitiba/Paraná, atendendo os
diversos casos que envolvem o Direito de Família e lidando com as
mais variadas situações de conflito familiares. A partir do que
vivenciamos, dia após dia, passamos a perceber o quão difícil é a
tarefa de equilibrar razão e emoção, principalmente diante de um
conflito familiar que chegou ao ponto de ser levado ao Judiciário,
para se tentar achar uma solução.
Situações que
envolvem a guarda de um filho, um casamento que chegou ao fim, a
dificuldade financeira depois de um divórcio, a perda de algum
parente querido que deixou bens – e, às vezes, apenas dívidas –,
uma pensão alimentícia que não é paga, uma traição descoberta,
um filho no meio da disputa travada entre os pais… Tudo isso mexe
com os sentimentos mais profundos das pessoas. Muitas vezes, ocorre
uma mistura de amor e ódio que, não raramente, faz com que o
processo judicial seja visto como a única forma de resolver os
problemas, ou até mesmo de ainda tentar manter algum elo com o outro
indivíduo.
Ao nos depararmos
com conflitos familiares, principalmente aqueles que envolvem
interesses de crianças e adolescentes, procuramos sempre afastar os
problemas conjugais para focar no bem-estar dos menores, que
infelizmente são os que mais sofrem com os conflitos entre
familiares.
Muitas vezes,
percebemos que os genitores não enxergam os reflexos negativos que
suas próprias atitudes combatentes podem causar nos filhos, e,
assim, quando o filho apresenta um comportamento diferente do
esperado, automaticamente atribuem a culpa daquilo ao outro pai, por
ter praticado alguma conduta com a qual não concorda, sem antes
fazer uma reflexão – que também é necessária – sobre o seu
próprio modo de conduzir a situação.
Dificilmente as
partes reconhecem que qualquer enfermidade ou mudança de humor da
criança pode ser em decorrência do conflito travado entre eles, e
não simplesmente da eventual alegada má adaptação à casa do
outro ou até mesmo à falta de cuidado por parte do outro genitor.
“…a metáfora da
guerra, muito usada no espaço jurídico, tem uma aplicação
interessante nas Varas de Família, onde as duas partes são
incitadas a reunir todo um ‘exército’ para participar da
batalha. Avós, amigos, irmãos, vizinhos, professores, médicos,
psicólogos, enfim, uma série de ‘recrutas’, não raro, vêm
testemunhar em favor de um lado ou de outro, tanto para falar a
respeito das questões mais triviais da rotina de uma família –
que somente depois da separação passaram a constitui problema –,
como também para embasar as acusações que precisam estar ancoradas
na fala de especialistas.”2
Esse “jogo”
instaurado entre as pessoas durante uma disputa judicial, não faz
nada mais do que contribuir para que os indivíduos de distanciem
ainda mais uns dos outros, além de prejudicar o desenvolvimento
sadio dos filhos menores de idade, que estão em fase de formação
da sua personalidade.
“É interessante
também observar como, ao longo do litígio, intensificam-se as
idealizações a respeito dos papéis que pais e mães deveriam
desempenhar junto ao filho, ou seja, um passa a cobrar do outro uma
dedicação quase que ao nível de excelência. Em decorrência
disso, surgem não apenas acusações de supostas negligências, mas
também substituições improvisadas de pais e mães.”3
É muito importante
que as partes envolvidas em situações de conflitos permanentes
procurem a orientação de profissionais especializados, desde
advogados capacitados e com experiência em Direito de Família, até
psicólogos e médicos, quando for o caso, para auxiliarem durante o
processo, e ajudarem a lidar com a situação de um modo geral.
Se você estiver
passando por alguma dificuldade durante um processo judicial, ou por
algum grave conflito familiar, procure o auxílio de profissionais
que não “tomem as dores” daqueles que estão emocionalmente
envolvidos, mas sim que tentem mediar a situação, procurando uma
solução adequada para o caso de maneira pacífica e que venha em
benefício de todos.
Portanto, se você
estiver diante de um conflito familiar, e estiver tendo dificuldade
para lidar com a situação, procure sempre seguir o caminho que
levará à redução das brigas. Não mexa em feridas e procure
afastar os problemas conjugais das questões relacionadas aos filhos,
pois eles sofrerão muito mais e serão os maiores prejudicados caso
o problema não seja solucionado de maneira a considerar seus
interesses.
Por Arethusa Baroni, Flávia Kirilos Beckert Cabral e Laura Roncaglio de Carvalho
Fonte: Blog Direito Familiar
_____________
1 BERGMAN, Ingmar. Cenas de um casamento sueco. Rio de Janeiro, ed. Nórdica, 1973.
2 REIS, Érika Figueiredo. Varas de Família: Um Encontro entre Psicologia e Direito. 1ª. ed. Curitiba: Juruá, 2010.
3 REIS, Érika Figueiredo. Varas de Família: Um Encontro entre Psicologia e Direito. 1ª. ed. Curitiba: Juruá, 2010.
Nenhum comentário:
Postar um comentário